25.4.12
25 de Abril : Saudação Amarga
Sendo hoje, 25 de Abril de 2012, um dia de festejo oficial, venho aqui lavrar um pequeno depoimento sobre o espírito do momento, vivido 38 anos depois do que parecia o início de uma nova era : de paz, de liberdade e de prosperidade: económica, cultural e social.
Será um depoimento breve, porque as palavras estão gastas e de tanto uso impróprio perderam sentido.
Considero que o essencial, sobre este tema da revolução do 25 de Abril, já foi dito e redito. Proliferam histórias da carochinha, carregando de tintas negras o regime anterior, em contraste com as maravilhas que a revolução trouxe aos portugueses.
O regime derrubado nessa data, longe de ser um bom regime, desde logo não democrático, deve, no entanto, ser avaliado no contexto histórico em que surgiu, se desenvolveu, entrou em estagnação e depois em declínio.
Teve méritos iniciais indesmentíveis, pelo menos, até à 2.ª Guerra Mundial, a de 1939-45, ficando depois dela desenquadrado do ambiente político internacional. A sua sobrevivência nos cerca de 30 anos seguintes é motivo de espanto, só explicável pela fraqueza das alternativas oposicionistas, aliada à cobertura das Forças Armadas.
Pouco interessa hoje especular porque falhou o antigo regime. Já não tem motivação política, mas apenas histórica. Interessará muito mais analisar o fracasso do actual regime, esse cadáver adiado, que já não entusiasma ninguém, excepto a corte que dele vive e a quem ele generosamente alimenta.
Nesta corte se incluem os que alternadamente ocupam o Poder e vão mudando de papéis, como os actores profissionais fazem no Teatro, uns com maior, outros com menor brilho.
O balanço que a Nação pode realizar destes quase 40 anos transcorridos é arrepiante : na Economia, com taxas de crescimento modestíssimas, nos últimos anos em regressão, na Indústria, diminuída, na Agricultura, definhante, nas Pescas, idem e está traçada, nestes pilares, o fundamento da nossa actual situação material, como País.
No aspecto educativo, o balanço é pior ainda : sucessões de gerações mal preparadas, técnica e culturalmente, saindo das Escolas, primárias, médias e superiores, grandemente ignorantes, não só do País em que vivem, como do Mundo em que terão de sobreviver.
No aspecto educativo, o balanço é pior ainda : sucessões de gerações mal preparadas, técnica e culturalmente, saindo das Escolas, primárias, médias e superiores, grandemente ignorantes, não só do País em que vivem, como do Mundo em que terão de sobreviver.
Pouco destes dois universos conhecem, para além do que os filmes, as músicas e a internet lhes vão mostrando, a maior parte, não estando em condição intelectual de compreender o que eles lhe oferecem.
Tudo absorvem acriticamente, em pura atitude consumista, esmagados pela avassaladora produção mundial de lixo mediático que lhes é servido sob a designação de cultura.
Um País que precisa de se erguer do lamaçal em que se acha precisaria de gente com outra preparação intelectual.
Da formação ética, ainda se torna mais difícil falar. Aqui, as novas gerações serão menos censuráveis, visto que têm colhido exemplos completamente nocivos da parte dos seus educadores : famílias, escola, governos e estado.
Portugal, para continuar, como entidade credível, como país soberano e respeitado da Comunidade Internacional, precisa de poder contar com as novas gerações, sobretudo, porque as outras estão a terminar o seu trabalho e já tiveram oportunidade de mostrar o que valem, com os resultados decepcionantes, que se comprovam.
Para levantar um País, é essencial que este disponha de elites válidas, verdadeiras e não só nominais, as que ocupam os cargos que lhes conferem essa distinção, que, depois, na maior parte das vezes, não honram, frustrando todos aqueles que nelas confiaram.
As elites, por definição, serão sempre em número escasso e daí mais uma razão para que tenham de ser de inquestionável qualidade, a qual se deverá entender, no seu aspecto técnico, pela lado da competência, que só existe a partir do conhecimento real dos assuntos de que tratam, mas também terá de contemplar a vertente ética, porque, sem esta, toda aquela competência se revelará improfícua.
Por havermos descurado este pormenor, temos acumulado decepções sobre decepções, com gente que considerávamos competente nos seus ofícios.
Sem a observância de códigos de ética, sem respeito de normas de comportamento, sem a fiscalização eficaz do cumprimento das Leis, toda a vida em sociedade fica desvirtuada, acabando por prevalecer toda espécie de habilidades, de esquemas, artes e manhas, semeando a corrupção.
Depois de esta ganhar raízes, torna-se muito difícil a sua extirpação, sendo certo que esta nunca virá da parte daqueles que a criaram e dela beneficiam. E com isto regressamos à actualidade.
Tal como muitos vão dizendo, o Regime instituído em 25 de Abril de 1974 está esgotado. Produz eleições, permite a alternância de partidos no governo, aceita a liberdade de expressão, não a contém, não a reprime, mas olimpicamente ignora todas as críticas que lhe fazem, dormindo sossegado pelas liberdades e franquias que concede.
Estas, porém, não produzem nenhum efeito positivo, esgotam-se em contínuas críticas, recriminações e até insultos, sem nenhum resultado prático.
Um governo vai, outro vem; um decreta restrições, outro agrava as mesmas; um diz que a salvação está próxima ou o perigo já mesmo passou, para depois descobrirmos que a realidade é completamente diferente, sempre mais grave do que aquilo que se supunha. E disto não temos passado, nos últimos cerca de três lustros.
Os escritos que melhor definiram a decepção – e raiva também – com o espírito de Abril, encontrei-os em António José Saraiva, essa figura franzina de português ilustre, que nos legou textos políticos de espantosa agudeza crítica e até premonitória, além da obra mais estritamente cultural, original e de enorme valor literário, sempre esculpida em português de lei, rigoroso, fluido, muito agradável de ler.
No início de 1979, António José Saraiva escreveu dois artigos no Diário de Notícias que causaram forte polémica, pela contundência verbal utilizada contra alguns santos e bonzos do Regime, que ninguém ousava beliscar, muito menos responsabilizar pelos actos praticados em nome dessa mesma revolução apelidada de libertadora.
Na altura, também me pareceram excessivos e, sobretudo, demasiado duros com os Militares, embora, no resto, tivesse achado muito pertinentes, pela perspicácia e pela intrepidez moral e física demonstradas, num homem que não representava partidos, sindicatos ou quaisquer agremiações, mas apenas a si próprio, com a sua cultura, a sua experiência, a sua arte, apuradíssima, na escrita de um português esmerado, de rara categoria, que já então poucos praticavam.
Com o tempo, fui reconhecendo cada vez maior razão nas críticas de AJSaraiva e, ainda hoje, procuro e não encontro nada que as haja superado, tanto no conteúdo, como na forma em que ficaram vazadas.
Em 2007, creio, divulguei-as nesta mesma tribuna e voltarei a fazê-lo em breve, para que muitos as leiam e meditem, com consciência aberta e coração limpo, para melhor acolherem todo o seu significado profundo.
Que Deus salve Portugal, já que dos homens não parece vir remédio bastante.
AV_Lisboa, 25 de Abril de 2012
Comments:
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Caro António Viriato
Felicito-o pela sua reflexão, profunda e convincente como é seu timbre, mas que merece algo mais do que uma simples leitura. Reflexão puxa reflexão, como as palavras, e aproveito a deixa para atamancar umas ideias para complementar aquilo que aqui nos diz.
Por questões que se prendem com o número de caracteres vou dividir o texto em duas partes.
1ª parte
Como bem sabemos, Portugal foi o único reino da península ibérica que não foi absorvido por Castela. Diga-se porém, em abono da verdade, que os portugueses não são os que mais se diferenciam dos castelhanos, chamemos-lhe assim para simplificar. Estou a pensar, como exemplo, nos Bascos e nos Catalães. Quero com isto dizer que talvez não tivessem sido as razões étnicas o factor preponderante para o separatismo luso.
Na minha modestíssima opinião há um factor que, no mínimo, fez pesar o prato da balança: o imperialismo da Inglaterra, a maior potencia marítima europeia. Porque um dos principais objectivos dos ingleses foi sempre bloquear o acesso ao mar aberto por parte das potências continentais, incluindo a Espanha. Objectivo esse conseguido na península com o apoio à separação do reino de Portugal, que ficou na posse das costas mais acessíveis. Mais tarde, em 1740, tal objectivo foi consolidado com a tomada de Gibraltar.
Recorde-se que, talvez por força dessa estratégia, foram eles que em 1385 e 1640 nos prestaram uma ajuda preciosa para que continuássemos independentes. O que se repetiu na Guerra Peninsular, nos tempos de Bonaparte.
Por outro lado, numa época em que quem não expandisse o território estava condenado, Portugal encontrou no mar o único caminho para a sua sobrevivência e afirmação.
Deu-se assim início uma epopeia heroica, de vários séculos, com altos e baixos, em que nós nos afirmámos como potencia colonialista. Foi, por assim dizer, o nosso “emprego” durante quatro séculos. O que, convenhamos, até era bem visto e invejado pela maior dos países europeus.
Mas já que falo de invejas, lembro que os nossos territórios ultramarinos foram alvo de cobiça das outras potências colonialistas. E Portugal sabia-o bem quando entrou na Guerra de 14-18. Fê-lo porque estava ciente que a guerra iria resultar numa nova ordem mundial, com a consequente partilha de África. Se não alinhasse ao lado do vencedor, perderia as colónias.
Ironicamente, no conflito mundial que se seguiu, Salazar percebeu que, se entrasse na guerra, teria de se submeter aos interesses de forças mais poderosas e que teria de abrir mão desses territórios. Ao que parece, sabia que a nova ordem mundial resultante da guerra iria impor o fim do colonialismo europeu. Previsão que se veio a confirmar, como bem sabemos.
Com efeito, terminado o conflito, as duas únicas potências vencedoras, os EUA e a URSS, determinaram o que já se temia: o fim dos impérios coloniais europeus
Felicito-o pela sua reflexão, profunda e convincente como é seu timbre, mas que merece algo mais do que uma simples leitura. Reflexão puxa reflexão, como as palavras, e aproveito a deixa para atamancar umas ideias para complementar aquilo que aqui nos diz.
Por questões que se prendem com o número de caracteres vou dividir o texto em duas partes.
1ª parte
Como bem sabemos, Portugal foi o único reino da península ibérica que não foi absorvido por Castela. Diga-se porém, em abono da verdade, que os portugueses não são os que mais se diferenciam dos castelhanos, chamemos-lhe assim para simplificar. Estou a pensar, como exemplo, nos Bascos e nos Catalães. Quero com isto dizer que talvez não tivessem sido as razões étnicas o factor preponderante para o separatismo luso.
Na minha modestíssima opinião há um factor que, no mínimo, fez pesar o prato da balança: o imperialismo da Inglaterra, a maior potencia marítima europeia. Porque um dos principais objectivos dos ingleses foi sempre bloquear o acesso ao mar aberto por parte das potências continentais, incluindo a Espanha. Objectivo esse conseguido na península com o apoio à separação do reino de Portugal, que ficou na posse das costas mais acessíveis. Mais tarde, em 1740, tal objectivo foi consolidado com a tomada de Gibraltar.
Recorde-se que, talvez por força dessa estratégia, foram eles que em 1385 e 1640 nos prestaram uma ajuda preciosa para que continuássemos independentes. O que se repetiu na Guerra Peninsular, nos tempos de Bonaparte.
Por outro lado, numa época em que quem não expandisse o território estava condenado, Portugal encontrou no mar o único caminho para a sua sobrevivência e afirmação.
Deu-se assim início uma epopeia heroica, de vários séculos, com altos e baixos, em que nós nos afirmámos como potencia colonialista. Foi, por assim dizer, o nosso “emprego” durante quatro séculos. O que, convenhamos, até era bem visto e invejado pela maior dos países europeus.
Mas já que falo de invejas, lembro que os nossos territórios ultramarinos foram alvo de cobiça das outras potências colonialistas. E Portugal sabia-o bem quando entrou na Guerra de 14-18. Fê-lo porque estava ciente que a guerra iria resultar numa nova ordem mundial, com a consequente partilha de África. Se não alinhasse ao lado do vencedor, perderia as colónias.
Ironicamente, no conflito mundial que se seguiu, Salazar percebeu que, se entrasse na guerra, teria de se submeter aos interesses de forças mais poderosas e que teria de abrir mão desses territórios. Ao que parece, sabia que a nova ordem mundial resultante da guerra iria impor o fim do colonialismo europeu. Previsão que se veio a confirmar, como bem sabemos.
Com efeito, terminado o conflito, as duas únicas potências vencedoras, os EUA e a URSS, determinaram o que já se temia: o fim dos impérios coloniais europeus
2ª Parte
Abro aqui um parêntesis para esclarecer que toda a Europa foi derrotada: ingleses, franceses, alemães italianos e por aí fora, incluindo os países que não participaram na guerra.
É bom de ver que as nossas colónias estavam, a partir daí, condenadas. E acredito que foi nesse ponto que Salazar falhou. Ele sabia que a ameaça se estava a concretizar mas não conseguiu encontrar uma resposta que minimizasse os estragos. Nesse particular concordo com Fernando Dacosta (meu colega de liceu) que insinua que o ditador acreditava na inevitabilidade de uma 3ª guerra mundial e que daí resultaria uma nova ordem que talvez nos fosse favorável. E enquanto o pau vai e vem...
Eu entendo o drama de Salazar. Entregar os territórios seria a destruição das bases de sustentação da Pátria e o consequente desmoronamento de toda a estrutura. Recorreu à guerra para ganhar tempo, mas a Nação esgotou-se e o resultado está à vista. Perdemos o “emprego” e não sabemos como resolver a questão. A menos que encontremos novos objectivos nacionais que motivem os portugueses, estaremos condenados ao desaparecimento. Na melhor das hipóteses, seremos “dissolvidos” noutras culturas onde ficaremos com o direito de continuar cantar o fado e pouco mais...
Voltando ao 25 de Abril de que aqui fala, penso que o golpe militar foi o menor dos males. A alternativa seria o colapso das Forças Armadas em África. Contrariamente às teses de Spínola e de outros saudosistas, a guerra estava mais do que perdida, mesmo em Angola onde a acalmia era apenas aparente. Sem o golpe militar, provavelmente aconteceria a vitória pela força do dito “Partido Comunista” de obediência soviética. Com todo o cortejo de horrores do qual, infelizmente, conhecemos uma parte durante o famigerado PREC.
Abro aqui um parêntesis para esclarecer que toda a Europa foi derrotada: ingleses, franceses, alemães italianos e por aí fora, incluindo os países que não participaram na guerra.
É bom de ver que as nossas colónias estavam, a partir daí, condenadas. E acredito que foi nesse ponto que Salazar falhou. Ele sabia que a ameaça se estava a concretizar mas não conseguiu encontrar uma resposta que minimizasse os estragos. Nesse particular concordo com Fernando Dacosta (meu colega de liceu) que insinua que o ditador acreditava na inevitabilidade de uma 3ª guerra mundial e que daí resultaria uma nova ordem que talvez nos fosse favorável. E enquanto o pau vai e vem...
Eu entendo o drama de Salazar. Entregar os territórios seria a destruição das bases de sustentação da Pátria e o consequente desmoronamento de toda a estrutura. Recorreu à guerra para ganhar tempo, mas a Nação esgotou-se e o resultado está à vista. Perdemos o “emprego” e não sabemos como resolver a questão. A menos que encontremos novos objectivos nacionais que motivem os portugueses, estaremos condenados ao desaparecimento. Na melhor das hipóteses, seremos “dissolvidos” noutras culturas onde ficaremos com o direito de continuar cantar o fado e pouco mais...
Voltando ao 25 de Abril de que aqui fala, penso que o golpe militar foi o menor dos males. A alternativa seria o colapso das Forças Armadas em África. Contrariamente às teses de Spínola e de outros saudosistas, a guerra estava mais do que perdida, mesmo em Angola onde a acalmia era apenas aparente. Sem o golpe militar, provavelmente aconteceria a vitória pela força do dito “Partido Comunista” de obediência soviética. Com todo o cortejo de horrores do qual, infelizmente, conhecemos uma parte durante o famigerado PREC.
Meu Caro Amigo Fernando Vouga,
Agradeço-lhe bastante as reflexões aqui deixadas.
São pontos de vista legítimos e absolutamente defensáveis.
Quando medito na História de Portugal, acho-a quase um milagre.
Só gente muito determinada e valorosa conseguiria fazer de um minúsculo condado, um dos maiores Impérios do seu tempo.
Só isso merece enorme respeito. Com a perda da indepedência começámos a declinar.
Ainda assim, em decadência, lográmos subtrair o Império à cobiça das Potências, mantendo-o até aos anos 70 do século passado.
Poderíamos ter procedido de modo mais inteligente, promovendo soluções de parceria com os territórios ultramarinos, como fizeram os ingleses.
Perdemos tempo, oportunidades, e deixámos apodrecer a situação guerreira em África. Quando se acordou para o problema, com uma situação revolucionária na Metrópole, tornou-se muito difícil a sua resolução.
O resultado foi inglório do esforço anteriormente despendido. Forças internas tudo fizeram para favorecer os seus amigos ideológicos e em grande parte triunfaram. Depois disso,a tarefa de desenvolver o País saldou-se num fiasco, fundamentalmente por falta de gente à altura dela, já que o novo Regime, a breve trecho, caiu nas mãos de camarilhas incompetentes e desonestas, que nos conduziram ao estado em que hoje nos achamos : um País quase falido, endividado, que perde soberania continuamente, que mendiga crédito financeiro em todo lado, que não consegue progredir, com sectores vitais da sua Economia desarticulados e enfraquecidos, com os seus maiores activos comprados por capital estrangeiro, com um Sistema de Ensino incapaz, uma Justiça lenta, ineficaz e permanentemente sob suspeita, etc., etc.
Tudo isto mergulhou o Povo na descrença, na falta de confiança em si mesmo, desorientado, alienado, entregue a imbecilidades, que o embrutecem e o incapacitam de lutar pelo seu futuro. Este é um quadro desgraçado.
Acresce que as elites tem traído o seu papel, apenas se preocupando com a sua riqueza pessoal. Daí que me sinta hoje deveras perplexo quanto ao nosso futuro como Nação soberana, como Estado independente.
E que tudo isto tenha acontecido em regime democrático, que contou com tantos favores, tantos auxílios, num ambiente de paz, terminadas as guerras africanas, é desconsolador.
Custa reconhecê-lo, mas o fracasso é insofismável e só um grande esforço de regeneração nos poderá colectivamente redimir.
Mas para isto carecemos de comandantes que inspirem confiança e sejam capazes de arrastar o conjunto da população.
O tempo vai passando e nada de optimista se enxerga. Até a Esperança declina. Bem sei que é preciso resistir ao desânimo, remar contra a maré do desespero, mas começa a ser penoso.
O Herculano chegou a dizer do seu desagrado com o País, que «isto dá vontade de morrer», mas ou menos nestes termos e passados quase 150 anos, vemo-nos com amarguras semelhantes.
É melhor não prosseguir e rezar por melhores dias para o nosso País.
Um abraço.
Agradeço-lhe bastante as reflexões aqui deixadas.
São pontos de vista legítimos e absolutamente defensáveis.
Quando medito na História de Portugal, acho-a quase um milagre.
Só gente muito determinada e valorosa conseguiria fazer de um minúsculo condado, um dos maiores Impérios do seu tempo.
Só isso merece enorme respeito. Com a perda da indepedência começámos a declinar.
Ainda assim, em decadência, lográmos subtrair o Império à cobiça das Potências, mantendo-o até aos anos 70 do século passado.
Poderíamos ter procedido de modo mais inteligente, promovendo soluções de parceria com os territórios ultramarinos, como fizeram os ingleses.
Perdemos tempo, oportunidades, e deixámos apodrecer a situação guerreira em África. Quando se acordou para o problema, com uma situação revolucionária na Metrópole, tornou-se muito difícil a sua resolução.
O resultado foi inglório do esforço anteriormente despendido. Forças internas tudo fizeram para favorecer os seus amigos ideológicos e em grande parte triunfaram. Depois disso,a tarefa de desenvolver o País saldou-se num fiasco, fundamentalmente por falta de gente à altura dela, já que o novo Regime, a breve trecho, caiu nas mãos de camarilhas incompetentes e desonestas, que nos conduziram ao estado em que hoje nos achamos : um País quase falido, endividado, que perde soberania continuamente, que mendiga crédito financeiro em todo lado, que não consegue progredir, com sectores vitais da sua Economia desarticulados e enfraquecidos, com os seus maiores activos comprados por capital estrangeiro, com um Sistema de Ensino incapaz, uma Justiça lenta, ineficaz e permanentemente sob suspeita, etc., etc.
Tudo isto mergulhou o Povo na descrença, na falta de confiança em si mesmo, desorientado, alienado, entregue a imbecilidades, que o embrutecem e o incapacitam de lutar pelo seu futuro. Este é um quadro desgraçado.
Acresce que as elites tem traído o seu papel, apenas se preocupando com a sua riqueza pessoal. Daí que me sinta hoje deveras perplexo quanto ao nosso futuro como Nação soberana, como Estado independente.
E que tudo isto tenha acontecido em regime democrático, que contou com tantos favores, tantos auxílios, num ambiente de paz, terminadas as guerras africanas, é desconsolador.
Custa reconhecê-lo, mas o fracasso é insofismável e só um grande esforço de regeneração nos poderá colectivamente redimir.
Mas para isto carecemos de comandantes que inspirem confiança e sejam capazes de arrastar o conjunto da população.
O tempo vai passando e nada de optimista se enxerga. Até a Esperança declina. Bem sei que é preciso resistir ao desânimo, remar contra a maré do desespero, mas começa a ser penoso.
O Herculano chegou a dizer do seu desagrado com o País, que «isto dá vontade de morrer», mas ou menos nestes termos e passados quase 150 anos, vemo-nos com amarguras semelhantes.
É melhor não prosseguir e rezar por melhores dias para o nosso País.
Um abraço.
Caríssimo amigo
Mas este não será o pior mal.
Como é do conhecimento geral, o índice de natalidade da "raça" europeia é catastroficamente baixo. Dentro de poucas décadas a Europa estará religiosa e culturalmente descaracterizada.
Não quero fazer juízos de valor mas, felizmente, já cá não estarei para ver.
Um grande abraço
Mas este não será o pior mal.
Como é do conhecimento geral, o índice de natalidade da "raça" europeia é catastroficamente baixo. Dentro de poucas décadas a Europa estará religiosa e culturalmente descaracterizada.
Não quero fazer juízos de valor mas, felizmente, já cá não estarei para ver.
Um grande abraço
Meus Caros
Nem mesmo no tempo do botas em que havia mais igrejas do que escolas e mais padres do que professores, a intervenção divina se fez sentir na protecção deste bom povo,vai daí que uns milhares emigraram e outros foram morrer ingloriamente a África na suposta defesa da pátria.
Onde estavam as tão apregoadas elites, defensoras do jardim Camoniano? A dormir provavelmente, ou a tratar dos seus interesses, mas não a pensar em como engrandecer a pátria amada.
A politica é o que é( Bordalo representava-a muito bem) e na cultura ocidental não é substancialmente diferente de país para país, os políticos também não são diferentes,mas acontece que estivemos parados no tempo e os 38 anos ainda não deram para recuperar.
Não sejamos negativistas, há que sermos realistas e consultar a PORDATA(?)para se perceber onde estávamos e onde estamos, e não há duvidas que o progresso em todos os domínios foi gigantesco, até na investigação.
Claro que estamos a passar um mau bocado, mas saberemos, como povo, sair daqui, mas o negativismo e o descrédito não me parece uma contribuição positiva para isso.
Gostei em particular do FV no ultimo paragrafo na 2ªparte assim como o comentário sobre a aculturação da Europa, daí que o futuro seja uma guerra económica de blocos e não de países,daí também a necessidade duma EU forte mais do que um forte país.O tempo dos condados já terminou há muito
Um abraço
Hfarol
Nem mesmo no tempo do botas em que havia mais igrejas do que escolas e mais padres do que professores, a intervenção divina se fez sentir na protecção deste bom povo,vai daí que uns milhares emigraram e outros foram morrer ingloriamente a África na suposta defesa da pátria.
Onde estavam as tão apregoadas elites, defensoras do jardim Camoniano? A dormir provavelmente, ou a tratar dos seus interesses, mas não a pensar em como engrandecer a pátria amada.
A politica é o que é( Bordalo representava-a muito bem) e na cultura ocidental não é substancialmente diferente de país para país, os políticos também não são diferentes,mas acontece que estivemos parados no tempo e os 38 anos ainda não deram para recuperar.
Não sejamos negativistas, há que sermos realistas e consultar a PORDATA(?)para se perceber onde estávamos e onde estamos, e não há duvidas que o progresso em todos os domínios foi gigantesco, até na investigação.
Claro que estamos a passar um mau bocado, mas saberemos, como povo, sair daqui, mas o negativismo e o descrédito não me parece uma contribuição positiva para isso.
Gostei em particular do FV no ultimo paragrafo na 2ªparte assim como o comentário sobre a aculturação da Europa, daí que o futuro seja uma guerra económica de blocos e não de países,daí também a necessidade duma EU forte mais do que um forte país.O tempo dos condados já terminou há muito
Um abraço
Hfarol
Caro Leitor HFarol,
A intervenção divina aqui é tão-somente uma metáfora.
Quanto a ser negativista, só no propósito de contrariar o optimismo balofo, o que conduziu Portugal à beira do abismo, a um passo da bancarrota, numa altura em que não havia guerras a suportar e em que contávamos com a Europa connosco, que nos inundava de recursos financeiros, de suporte político, etc., etc.
Que maior fracasso poderíamos ter averbado do que nem dispor de autonomia para elaborar um básico Orçamento Geral de Estado ?
Vai ser preciso muito esforço, muito penar, para readquirirmos a dignidade perdida.
É evidente que haverá sempre nichos de progresso e de prosperidade. Mas uma andorinha não faz a Primavera e contam-se já por gerações os falhanços do presente regime, que será formalmente democrático, mas com doses profundas de corrupção e de incompetência que acabam por minar e por frustrar as legítimas esperanças dos cidadãos.
Dizer isto não é pessimismo; é condição indispensável para recobrar consciência do mal que nos tolhe.
Sem diagnóstico correcto da enfermidade, dificilmente se acerta com a cura da doença, na Medicina como no resto.
Volte sempre, mesmo para contestar opiniões.
Um abraço.
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A intervenção divina aqui é tão-somente uma metáfora.
Quanto a ser negativista, só no propósito de contrariar o optimismo balofo, o que conduziu Portugal à beira do abismo, a um passo da bancarrota, numa altura em que não havia guerras a suportar e em que contávamos com a Europa connosco, que nos inundava de recursos financeiros, de suporte político, etc., etc.
Que maior fracasso poderíamos ter averbado do que nem dispor de autonomia para elaborar um básico Orçamento Geral de Estado ?
Vai ser preciso muito esforço, muito penar, para readquirirmos a dignidade perdida.
É evidente que haverá sempre nichos de progresso e de prosperidade. Mas uma andorinha não faz a Primavera e contam-se já por gerações os falhanços do presente regime, que será formalmente democrático, mas com doses profundas de corrupção e de incompetência que acabam por minar e por frustrar as legítimas esperanças dos cidadãos.
Dizer isto não é pessimismo; é condição indispensável para recobrar consciência do mal que nos tolhe.
Sem diagnóstico correcto da enfermidade, dificilmente se acerta com a cura da doença, na Medicina como no resto.
Volte sempre, mesmo para contestar opiniões.
Um abraço.
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